A Cáritas Caicó é Noticia!

MENSAGEM DE PÁSCOA DE DOM ANTÔNIO (BISPO DE CAICÓ)

RENASCER EM TEMPOS DE ÓDIO E DE INTOLERÂNCIA

+Antonio Carlos Cruz Santos, msc

                                                                                             Bispo de Caicó

 
Nesta quaresma vivenciamos a Campanha da Fraternidade que nos convidou à superação da violência a partir da inspiração bíblica “Vós sois todos irmãos” (Mt 2
3,8).
Esta Campanha se deu justamente no momento que temos uma explosão de intolerância e de ódio, tanto a nível mundial como a nível nacional, dentro e fora da Igreja Católica. Intolerância política, econômica, religiosa, de gênero, étnica etc. As redes sócias se tornaram a boca deste dragão que vomita tanto ódio, tanta mentira, tanta “pós verdade”, tanta fake news (falsas notícias).
“De repente, não mais que de repente” algumas pessoas que conhecemos, que admiramos e que respeitamos começam a defender de uma forma tão agressiva as suas ideias, condenando os que pensam diferente, que eu me sinto também condenado, pois não penso do mesmo jeito delas. O que me assusta é perceber como brotou um ódio tão grande de pessoas que muitas vezes são tão ternas, tão piedosas. O historiador Leandro Karnal na sua obra “Todos contra todos: o ódio nosso de cada dia” pinta este cenário com cores tão realistas que chegam a doer em nosso peito.  Temos que admitir que a guerra que muitas vezes explode lá fora, já é travada há muito tempo dentro do nosso coração. Como disse certo amigo meu: “dentro do nosso peito há muita confusão e muita convulsão”.  Confesso que quando vejo algumas publicações de alguns pessoas que me são caras, tenho a tentação de excluí-las ou de bloqueá-las de meu contato, mas ainda resisto, pois resta sempre uma esperança. Por outro lado, tenho medo que essas publicações carregadas de ódio, intolerância, com uma carga de pessimismo exacerbado venham a me envenenar como as serpentes da murmuração no deserto (cf. Nm 21, 4- 9).
Como renascer neste contexto? Como descer dessa cruz da intolerância e da violência? Só há uma saída: tendo os olhos fixos naquele que foi transpassado. Olhar para Ele e perceber até onde o ódio, a violência, a intolerância e a exclusão podem levar. Matando aquele homem estávamos matando o próprio Deus. “Nenhum homem é uma ilha, completamente isolado. Cada homem é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um torrão for levado pelo mar, a Europa ficará menor, não importa se for um promontório, a casa do seu amigo ou a sua própria. A morte de qualquer homem me diminui porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca pergunte por quem dobram os sinos; dobram por ti”.  (John Donne, 1572-1631). Olhando para Aquele que transpassaram percebermos que odiando estamos odiando o amor, sendo violentos estamos violentando a paz, sendo intolerantes estamos excluindo Aquele que quer incluir todos no seu coração. Só com uma mudança de mentalidade, metanoia; só com uma mudança de coração, conversão, é possível renascer desse caos para a ordem do amor, dessas trevas para a luz da paz, dessa morte para uma vida nova.
Celebrar a paz neste contexto é pedir que o Senhor realize aquilo que o profeta Ezequiel profetizou: “Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne. Colocarei dentro de vocês o meu espírito…” (Ez 36, 26-27). Pedir que o Senhor nos dê um coração de carne, semelhante ao coração de seu Filho que nos amou com um coração humano (Gaudium et Spes nº 22) para que tenhamos no nosso peito os mesmos sentimentos que há em Jesus (Fl 2, 1-11).
Enfim, minha gente, é viver a Paixão por Cristo e a Paixão pela humanidade como cantaram tão bem Toquinho e Vinícius de Moraes na canção “Como dizia o poeta”:
Quem já passou por essa vida e não viveu,
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu.
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não.
Não há mal pior do que a descrença,
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão.
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair.
Pra que somar se a gente pode dividir.
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer.
Ai de quem não rasga o coração,
Esse não vai ter perdão.
Quem nunca curtiu uma paixão,
Nunca vai ter nada, não.
Feliz Páscoa, minha gente! Que como fênix renasçamos dessas cinzas! Que como Cristo renasçamos da morte para a vida, da condenação para a salvação, do ódio para o amor, da intolerância para a concórdia, da guerra para a paz, do pessimismo para a esperança. “Guardemos o pessimismo para dias melhores”. (Fr. Beto).
 

Caicó, Páscoa 2018

 

Esta gostando de nosso conteúdo?

Compartilhe!