MEDOS E PRESENÇA

MEDOS E PRESENÇA

Publicação:

Pe. Manoel Pedro Neto

Presidente da Cáritas Diocesana de Caicó

 
A Humanidade sempre foi envolvida no medo. Ao longo da história as elites criaram muitos “bichos papões” e assim dominaram e se locupletaram dos bens de muitos. É preciso não ter medo (Sl 91,5; Lc 12,5). A primeira atitude para quem deseja enfrentar o medo é tentar aproximar-se da realidade que “queima sem se consumir” (cf. Ex 3,3ss). É sempre a mesma história e nada de novo. A História da Salvação fala de Gedeão e Sansão (cf. Jz 6,1ss; 13,1ss) e os primeiros Discípulos de Cristo foram convidados a fazer uma leitura nova da realidade (cf. Lc 24,13ss) e o próprio Jesus teve de entrar no esconderijo de seus Discípulos para apresentar proposta de fazer acontecer a PAZ (Jo 20,19-23). A paz não cai do céu é obra de nossas mãos e corações abertos, urge consciência de que somos qualificados a fazê-la e no Espírito Santo somos testemunhas do perdão. Aquele “que não cometeu pecado algum,… Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz” (I Pd 2,22; cf. Fl  2,8). O que é isto? O inocente pendurado numa Cruz, enquanto muitos vivem a “muito bem”. Urge uma confrontação!
Aqui a fé tem muito a dizer-nos. Não podemos ficar a constatar ou enumerar fatos. Não podemos busca “bode expiatório” ou exigir respaldes jurídico, pois tudo está a serviço de interesses outros e não a dignidade humana. Aguardemos em oração o adejar do Espírito Santo e seremos testemunhas que: “Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2,1-36). É preciso entrar nesta dinâmica e não podemos nos deixar levar pelo medo, nem ficar acossado aos contos de “bicho papão”. Temos de acreditar no homem e nas suas buscas de acerto, pois nosso Deus tem qualificado o homem a ser agente de realidade nova, muitas vezes fugindo aos padrões corriqueiros. A Escritura fala disto abertamente, Jesus é sinal e precisamos dizer de nosso testemunho. Nosso Deus está do lado dos fragilizados da história, e, em nosso meio, já borbulhas as possibilidades novas de ser e fazer. Muito silêncio para não deixar as chances passar! Só na oração vislumbraremos o novo em gestação dentro da realidade e sem muito compreender precisamos tomar nas mãos e dar nome (cf. Lc 1,20s).
A humanidade entrou o século XX envolvido em guerras. Os desafios eram exorbitantes e o povão encurvado em uma realidade de muito medo e temor. Houve um distanciamento forte do homem de Deus, da natureza e de si próprio, isto na linguagem teológica e bíblica chama-se pecado.  Neste contexto “A tradição catequética lembra também que existem “pecados que bradam aos céus”. Bradam aos céus: o sangue da Abel (cf. Gn 4,10),o pecado dos sodomitas (cf. Gn 18,20; 19,13) o clamor do povo oprimido no Egito (cf. Ex 3,7-10), a queixa do estrangeiro, da viúva e do órfão (Ex 22,20-22), a injustiça para com o assalariado (cf. Dt 24,19-15; Tg 5,4)” [ CIC 1867].
O homem moderno marcada pela industrialização nascente deparou-se com uma realidade de negação do próprio homem, que estourou em múltiplas situações conflitantes. Assim em 1917, diante do impasse da Primeira Guerra Mundial, uma luz brilha no horizonte da humanidade e a partir de três vulneráveis crianças e da nação mais desarticulada européia – Portugal. A proposta ultrapassa todos aos parâmetros conhecidos, mas retoma o Evangelho. É preciso reconhecer o senhorio absoluto de Deus: “meu Deus, eu creio, adora, espero e amo-vos” (Ex 19,1ss). Urge fazer ressoar: “convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1,15) e acima de tudo o insistente convite a oração (I Ts 5,17).  E assim “dando a conhecer a seu povo a salvação com o perdão dos pecados” (cf. Lc 1,77). Fazer algo salvador, começando pela peculiar situação de pecado.  A cultura popular religiosa fez bradar: “a treze de maio na Cova da Iria do céu aparece a virgem Maria”. “Se o mundo quiserdes da guerra livrar, fazei penitência de tanto pecar”. “A Virgem lhes manda o terço rezar, a fim de alcançarem da guerra o findar”.
Onde estamos nós, brasileiros? A situação atual é desafiadora, contudo “Deus não se cansa de estender a mão” (MV 19). Vamos “bater no peito” e reconhecermos que somos pecadores sem, contudo, entrar na dinâmica da corrupção. “Pecadores sim, corruptos nunca”, como ensina o Papa. “Esta praga putrefata da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga” (Misericordiae Vultus 19).
Então cantemos: “Foi aos Pastorinhos que a virgem falou. Desde então nas almas nova luz brilhou” Ave, Ave, Ave Maria! (bis).

Tags

Compartilhar:

Veja também

Notícias

Na última semana, a Caritas Diocesana de Caicó realizou mais uma importante ação de solidariedade voltada às …

Notícias

Representantes da Cáritas de Natal, Mossoró e Caicó foram recebidos nesta quinta-feira (05) pela governadora Fátima Bezerra, …

Notícias

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo de Natal (RN)   Neste mês de julho, comemoramos Sant’Ana e São …