Mensagem de Páscoa: “VÃO PARA A GALILEIA” (Mt 28,10)
Pe. Manoel Pedro Neto
Presidente da Cáritas Diocesana de Caicó.
Somos pó da terra. Somos constituídos de elementos químicos. Aqui homens, mulheres e toda criatura encontram-se para um “levantar-se” ao divino, contudo a desobediência fez-nos caminhar para as trevas, nossos plenos dias tornaram-se escuros. A realidade a que chegamos está obscura e parece “não ter saída” e tem dado muito trabalho ao mundo jurídico. Tudo o que experimentamos é consequência de um “mundo” que optou pelo acúmulo de bens e exclusão do ser humano. Corrupção, propinas, intervenção militar, Triplex, casa no Guarujá, Paraísos fiscais, etc. favoreceram o crescimento de Tráfico e Traficantes em todo quadrante do Brasil em prejuízo da interferência do Estado. O brasileiro, o trabalhador ficou renegado as favelas e periferias de nossas cidades, sem dignidade humana mínima.
A escuridão cobre toda realidade brasileira (cf. Mt 27,45), ninguém está isento. O cidadão, o homem pleno de dignidade é tratado como bandido. Instigado pela mídia, e, sem nenhum questionamento, preferimos um bandido ao homem de bem (cf. Mc 15,11). Neste processo os trabalhadores, os cidadãos são excluídos, não participam dos bens da nação. Os mesmos com filhos e mulheres são jogados em favelas, periferias, cortiços, cracolandias, etc. sem salários, moradias, escolas, transporte, etc, e o desaforo da ver os bens públicos a serviço dos bem aquinhoados ou gastos em obras faraônicas nunca terminadas. Eis a razão da insegurança brasileira. “Eloí, Eloí, lema sabactâni?” (cf. Mc 15,34). Ninguém pode falar da dor do outro, cada um traduza em sua língua a sua dor, e, você de fora não fique a ideologizar, mas faça silêncio ou venha para a luta. Diz o provérbio: “só sabe onde o sapato aperta, quem o calça”. Não fiquemos a exigir que os crucificados da vida, por si só, saiam de suas negações, pois ninguém se salva sozinho, nós nos salvamos mutuamente, demos uma mãozinha dos esfolados de nossa sociedade. Aqui é preciso organização popular, humanização de ambientes vários, participação, vida comedida, bens partilhados, etc. Em suma CIDADANIA.
Que os meios de comunicações sociais, o Evangelho de Jesus estejam a serviço do Povão, encorajando-o e não o levando a negação própria, ao sentir-se impossibilitado de transformar a realidade. Que o projeto do Povo brasileiro em fazer uma nação cidadã, baseada em sua Constituição Cidadã, não seja roubada nem dificultada (cf. Jo 20,2) com impeachment, golpe de qualquer natureza, reformas impostas, intervenções atrasadas do Estado, criação de ministérios a serviço de poucos, etc. “”… Aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre… ” (Ap 1,18) grita dos túmulos de todos os negados, convidando “as Marias” a levar os desesperançados à voltar a Galileia, refazer passos (cf. Mc 16,7). Refazer a caminhada, retomar as lutas, fazendo-as com novos parâmetros onde seremos envolvidos pelos dons do espírito da sabedoria e compreensão, prudência e valentia, conhecimento e temor de Deus, (Is 11,ls). Numa palavra bem eclesial viver a piedade, nosso substrato cultural religioso, sem se deixar levar pela mundanidade tão atual em nossas Igrejas e pastorais.
Voltemos às nossas primeiras lutas. Digamos sim a cidadania. Salvemos o Estado de Direito, onde todos são iguais perante a Lei e são assegurados o Direito de Defesa, não só para os ricos, mas para o cidadão. Que a Justiça chegue a todos. Acima de tudo, salvemos a DEMOCRACIA e para vivê-la já temos um encontro marcado para 07 de outubro de 2018. Votemos em homens nascido das bases e se formos traídos, a Democracia nos favorece novos embates.
*Como cristãos aclamemos: “Aleluia, carne no prato e farinha na cuia”.
Como cidadão digamos: “Desejo um Brasil onde todos tenha prato fundo e cheio de comer para todo mundo”, e mais: “Menos ricos nadando em riqueza, e menos pobres se arrastando em pobreza”.*
Boa Páscoa, estimulado no Espírito de Jesus.
